O apetite fiscal
Existe um recorde que o Brasil não se
cansa de bater: o da arrecadação de
impostos. O PIB pode escorregar.
As exportações podem ficar
estagnadas. As vendas do comércio
podem andar para trás.
cansa de bater: o da arrecadação de
impostos. O PIB pode escorregar.
As exportações podem ficar
estagnadas. As vendas do comércio
podem andar para trás.
A indústria pode funcionar em marcha lenta.
Mas a arrecadação nunca para de crescer.
Ano após ano, a máquina fiscal
demonstra sua eficiência e leva para os
cofres públicos mais dinheiro do que no
exercício anterior.
Mas a arrecadação nunca para de crescer.
Ano após ano, a máquina fiscal
demonstra sua eficiência e leva para os
cofres públicos mais dinheiro do que no
exercício anterior.
Em 2011, o número deve bater
R$ 1,5 trilhão – o equivalente a 36% do PIB, considerando-se as arrecadações federal,
estaduais e municipais.
R$ 1,5 trilhão – o equivalente a 36% do PIB, considerando-se as arrecadações federal,
estaduais e municipais.
Apenas em impostos federais, entre janeiro e novembro de 2011, foram arrecadados
R$ 892 bilhões. É muito dinheiro e poderia ter um impacto muito mais perceptível sobre a
economia se, na ponta das despesas, a máquina pública demonstrasse a mesma eficiência.
R$ 892 bilhões. É muito dinheiro e poderia ter um impacto muito mais perceptível sobre a
economia se, na ponta das despesas, a máquina pública demonstrasse a mesma eficiência.
No entanto, não é essa impressão que se tem quando se observa a quantidade de obras por
fazer, de planos que não saem do papel e a demora em atender a necessidades que deveriam
ter sido supridas há muito tempo.
fazer, de planos que não saem do papel e a demora em atender a necessidades que deveriam
ter sido supridas há muito tempo.
Esse, aliás, é o pior lado dessa questão: a sensação de que o esforço fiscal, que no final das contas
é da sociedade, tem pouco efeito prático. Ano após ano, as companhias brasileiras têm se
esforçado não só para competir em seu próprio mercado com os produtos que chegam de todas as
partes do mundo como, também, para ganhar espaço no mercado global.
é da sociedade, tem pouco efeito prático. Ano após ano, as companhias brasileiras têm se
esforçado não só para competir em seu próprio mercado com os produtos que chegam de todas as
partes do mundo como, também, para ganhar espaço no mercado global.
E, seja qual for o competidor que enfrentem, elas sempre começam a disputa em desvantagem.
Não existe, no planeta inteiro, país que cometa tantos desatinos fiscais quanto o Brasil.
Não existe, no planeta inteiro, país que cometa tantos desatinos fiscais quanto o Brasil.
Nenhum outro tem tantos impostos, taxas e contribuições (que, entre nós, giram em torno
de uma centena). Nenhum outro tem agentes arrecadadores com interesses conflitantes entre
si, como ocorre no Brasil.
de uma centena). Nenhum outro tem agentes arrecadadores com interesses conflitantes entre
si, como ocorre no Brasil.
E, no meio de toda essa confusão, o contribuinte.
Por trás dessa questão, há um aspecto importante. Boa parte do aumento da arrecadação se
dá pela adoção de mecanismos de fiscalização mais eficientes. Com isso, muita gente que antes
se sentia seguro para driblar o Fisco tornou-se um contribuinte mais zeloso – ainda que contra a
própria vontade.
dá pela adoção de mecanismos de fiscalização mais eficientes. Com isso, muita gente que antes
se sentia seguro para driblar o Fisco tornou-se um contribuinte mais zeloso – ainda que contra a
própria vontade.
O problema, no entanto, é que esse ganho de eficiência precisa levar em conta alguns
aspectos fundamentais. Um deles é o dos limites para a arrecadação. O governo faria um bem
enorme ao país se compartilhasse com a sociedade parte de seus ganhos fiscais.
aspectos fundamentais. Um deles é o dos limites para a arrecadação. O governo faria um bem
enorme ao país se compartilhasse com a sociedade parte de seus ganhos fiscais.
Poderia, por exemplo, ampliar os limites de faturamento das empresas beneficiadas pelo
Simples (o regime fiscal diferenciado que atraiu para a formalidade milhares e milhares de
pequenos negócios). Poderia, na mesma linha, criar uma regra de passagem que
estimulasse o crescimento dessas companhias.
Simples (o regime fiscal diferenciado que atraiu para a formalidade milhares e milhares de
pequenos negócios). Poderia, na mesma linha, criar uma regra de passagem que
estimulasse o crescimento dessas companhias.
Isso porque as vantagens conferidas pelo Simples são tão grandes em relação ao modelo
tradicional de tributação que, para muita gente, é mais vantajoso continuar pequeno e
pagar menos impostos do que crescer e ter que suportar a carga indecente que pesa
sobre as companhias de médio e grande porte.
tradicional de tributação que, para muita gente, é mais vantajoso continuar pequeno e
pagar menos impostos do que crescer e ter que suportar a carga indecente que pesa
sobre as companhias de médio e grande porte.
São sugestões que poderiam ser pensadas agora. Antes que a carga geral torne-se tão pesada,
mas tão pesada que, mesmo com o risco de ser pegas em flagrante, as empresas voltem
a achar vantajoso sonegar.
mas tão pesada que, mesmo com o risco de ser pegas em flagrante, as empresas voltem
a achar vantajoso sonegar.
Fonte: Brasil Econômico, 16/12/2011
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